Há umas semanas atrás pedi aos meus seguidores, no instagram, para votar se queriam ter dicas exclusivamente de decoração sobre o tema Menos é Mais ou se queriam outros assuntos. Venceu em grande escala o Menos é Mais e muito em breve vão sair 6 dicas de Menos é Mais que podem aplicar em todas as casas.

Esta votação não surgiu por acaso, nem pelas minhas preocupações constantes com o ambiente, nem por o minimalista estar de alguma forma na moda. Esta votação surgiu após uma passagem pelo meu antigo colégio.

Fui convidada como oradora para falar, no dia 20 de Fevereiro, sobre Menos é Mais, no Colégio de Santa Doroteia, juntamente com o Sr. Ministro do Ambiente – João Pedro Matos Fernandes, o Dr. João Delicado – Coach, o Dr. Manuel Pinto Coelho – Médico, e a nutricionista Agata Roquete, com o intuito de esclarecer algumas dúvidas desta nova geração em relação ao seu futuro. Num mundo em que todos esperam que sejamos os melhores em tudo, em que tudo é descartável, independentemente do ambiente estar a colapsar, em que a aparência e os bens materiais são cada vez mais valorizados e símbolo de status, a sua maioria apenas para mostrar nas redes sociais e encostar a um canto ou deitar fora, e onde a competição é feroz, é natural que os jovem de hoje se sintam perdidos e estes alunos, que têm uma educação baseada na simplicidade e em valores morais, ainda se sentem mais perdidos, especialmente com tanta promessa de que são especiais.

Tendo vindo a trabalhar este conceito de simplicidade há alguns anos foi muito fácil para mim falar do tema.

Apresentaram-me da seguinte forma:
Rita Salgueiro conhecida por Nini é Designer de Interiores, diz que para quem ser designer de interiores é muito mais do que uma definição profissional. É, acima de tudo, a sua vocação e a escolha que a realiza diariamente. Sem preconceitos, assume-se como uma workaholic, alguém que é capaz de ficar horas a fio a trabalhar para tornar as casas dos seus clientes verdadeiros lares.
Abraçou um dos maiores desafios da sua carreira ao aceitar ser um dos rostos do programa E agora o que é que eu faço? exibido na SIC Mulher. A par deste projeto mais mediático, Rita continua a trabalhar no seu atelier, a dar workshops e as suas consultas de ideias, nas quais dá dicas de como organizar os vários espaços dentro de uma casa. O livro de inspiração: “A Arte da Simplicidade”Este livro de Dominique Moreau promove um estilo de vida mais simples e natural, bem diferente daquele que vivemos na Europa, tão marcado pelo consumismo.”

É sempre engraçado ouvir os outros a descreverem-nos.

Muitas questões foram levantadas e cada um dos oradores respondeu à sua. A que me levantaram foi a seguinte:
“- Rita, viver em simplicidade, uma marca Doroteia, como podemos viver com gosto e de forma simples? Está o minimalismo na moda? Os tarecos e as coisas escravizam-nos, o verbo hoje é DESTRALHAR … Como?”

Tentei explicar o melhor que consegui, que é muito fácil destralhar, que hoje em dia temos excesso de “coisas”, as casas estão cheias de tudo, o que é necessário e o que é supérfluo, que temos uma tendência natural para acumular tudo, para materializar momentos, e que assim que nos começamos a ver livres de tudo o que não nos faz realmente falta, e se pensarmos bem é quase metade do que temos, começamos a usufruir mais o que temos, começamos a descansar mais, principalmente quando chegamos a casa, não só porque está tudo arrumado mas também por não sermos “bombardeados” com tanta informação à nossa volta, começamos a sentirmo-nos mais leves, ganhamos tempo ao não ter tantas peças para limpar, ao não ficar horas a decidir o que vestir, e por não andar a passear às compras para preencher um vazio que não se preenche com nada do que é material. Que a vida se encarrega de nos mostrar o que é realmente importante e que todo esse tempo perdido pode ser bem passado com amigos, a ler um livro que lhes acrescente algo e de outras formas bem mais agradáveis. Tentei explicar-lhes que o dinheiro é óptimo mas não compra tudo, e que eu até estava a precisar de uma cordas vocais novas mas não havia como, que é muito mais importante o “Ser” do que o “Ter”, que se “Formos” o nosso valor nunca se perde, podemos ser milionários um dia e cair em desgraça no outro que somos a mesma pessoa e continuamos a ser vistos como tal, temos os mesmos princípios, as nossas qualidades e isso nunca se perde, que as pessoas mais facilmente nos ajudam ao reconhecer o nosso valor pessoal que ao conhecerem a nossa carteira. E acima de tudo que se se sentirem bem com elas próprias não vão ter vazios para preencher com compras supérfluas e desnecessárias.
Poderia ter optado por uma imagem mais despojada, mas não, levei os acessórios que uso diariamente para que percebessem que uma coisa é livrarmos-nos do que está a mais, dar a quem precisa e deixar de consumir em excesso, outra é abdicar de tudo o que já temos e viver com privações que não fazem sentido. Como em tudo na vida, nesta questão do Menos é Mais impera o bom senso.

Depois de nos ouvirem a todos os alunos tiraram as suas conclusões e foi muito gratificante perceber que captaram bem a mensagem que lhes quis passar.

“A Designer Rita Salgueiro trouxe-nos algumas palavras das quais guardamos os seguintes conceitos: arrumar o nosso interior como espaço de conforto por excelência, ser mais organizados, criarmos uma sala de estar interior onde menos é mais.”

Foi muito engraçado voltar ao colégio e principalmente estar agora do outro lado. É muito gratificante poder passar esta mensagem aos jovens que hoje têm as mesmas dúvidas que todos nós tivemos e muitas mais criadas pelas novas tecnologias. Pelo que me foi transmitido mais tarde, foi importante para eles terem presente alguém que foi aluna no mesmo colégio e que teve as mesmas questões.
Grande parte do que sou hoje devo-o ao Colégio de Sta Doroteia e serei sempre muito grata por ter tido a oportunidade de lá estudar.

Aqui posso ainda acrescentar que esta mudança não foi de um dia para o outro. Até deixar o consumo desenfreado demorou uns 2 anos. Começou há 10 anos atrás, depois de ler o livro A Arte da Simplicidade e decidir deixar de consumir, principalmente roupa, de forma impulsiva. Levanto algumas questões sempre que me apetece comprar algo, tais como: preciso mesmo disto, se sim porquê, é um motivo suficientemente válido? Se for compro, até porque nos dias que correm já só compro o que realmente preciso, mas inicialmente a maioria das vezes que fazia estas perguntas a resposta terminava com um não. As compras eram sempre feitas em momentos em que andava a passear ou a fazer tempo nas horas de almoço. Logo quando havia o “vazio” criado por não ter um propósito e precisar de fazer tempo ou me distrair. No caso da roupa para ter roupa diferente para sair todos os fins de semana sem excepção. 10 anos depois só compro o que realmente preciso e ainda tenho coisas para dar. Passei do tanta roupa e não tenho nada para vestir para o dei tudo só tenho isto para vestir, o que simplifica bastante o meu dia a dia. Ganhei horas do meu dia com um roupeiro onde não perco tempo a escolher o que vestir e quando quero ainda posso brincar com os acessórios que comprei ao longo dos meus 33 anos de consumismo e criar looks diferentes e divertidos.
Para a casa só compro até o espaço estar composto, mesmo quando vejo peças de perder a cabeça, se não tiver espaço onde as colocar não compro. Não faz sentido ter 10 jarras se apenas uma cabe no aparador e ter de desperdiçar espaço útil para guarda-las. Não faz sentido ter uma pilha de molduras com fotografias onde as de trás já nem se vêem. Ter 10 conjuntos de atoalhados e roupa de cama se existe apenas uma cama. E poderia dar muitos mais exemplos em que o mais se torna menos na nossa vida por não a simplificarmos.

No meu Menos É Mais a regra não é deitar tudo fora e ficar apenas com 33 peças num roupeiro como agora está na moda, ainda tenho e uso peças compradas nos tempos em que era aluna do colégio. Não é retirar tudo o que é acessório decorativo de casa e viver num minimalismo desconfortável. No meu Menos É Mais a regra é usufruir de tudo o que temos, dar o que já não usufruímos a quem precisa e comprar apenas o que é necessário, o que acontece quando as peças chegaram ao fim da sua vida.

Se pensarmos bem, até que ponto é que a maioria das coisas que compramos nos fazem falta?